Esqueça o biocombustível, os equipamentos tecnológicos ou a lucrativa e às vezes polêmica carne bovina. Nos últimos anos, o Brasil tem se especializado em “exportar” pelo mundo seu contingente expressivo e em plena expansão de consumidores de classe média.
Impulsionado por um câmbio favorável, uma carga tributária asfixiante e a predisposição dos empresários nacionais por margens de lucro acima de patamares aceitáveis, o brasileiro com condições de viajar para o exterior tem gastado cada vez menos dentro de casa e cada vez mais do lado de fora do país.
Segundo dados divulgados pelo Banco Central, as compras internacionais realizadas pelo consumidor local atingiram US$ 2,3 bilhões em janeiro. O montante é recorde e contribui, decisivamente, para o desequilíbrio entre o que o país vendeu e comprou do exterior no início deste ano. Saíram US$ 11,4 bilhões mais do que o volume que entrou.
Para se ter uma ideia do impacto do fenômeno na economia brasileira, o Banco Central destaca que esse é o maior déficit já registrado desde que começou a monitorar e agrupar essa movimentação, há 66 anos. “Tivemos um déficit significativo”, reconheceu um preocupado chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel.
Mas a despeito de toda a discussão em torno do tema, a “exportação” de consumidores não chega a ser uma novidade. Não é de hoje que tanto governo quanto mercado monitoram o tráfego aduaneiro entre o Brasil e os Estados Unidos, um dos destinos mais procurados para essa relação comercial.
Enquanto o número de turistas para o exterior cresceu 79% em seis anos, saltando de 3,5 milhões em 2005 para 7,3 milhões em 2011, o volume dos que saíram com destino ao país norte-americano avançou 211% em igual período (de 485 mil para 1,5 milhão).
“O principal destino desse povo todo é a cidade de Miami”, conta o professor de administração Instituto de Tecnologia Mauá, Ricardo Balistiero. “O Brasileiro gasta, em média, US$ 21 bilhões por ano no exterior. É um número que tende a crescer cada vez mais enquanto a carga tributária persistir”, diz.
O professor tem razão. É cada vez mais comum casais que saem do Brasil especificamente para comprar o enxoval de seu bebê nos Estados Unidos. A romaria de consumidores é tamanha que até motivou o surgimento de uma nova especialidade na América: consultorias de compras para atender futuras mamães brasileiras.
“Notava muitos brasileiros perdidos nas lojas daqui, em Miami. Por duas vezes ofereci ajuda e percebi a oportunidade de profissionalizar o serviço e criar a consultoria. Hoje, preparamos a lista de compras e oferecemos suporte no dia da compra”, disse-me uma dessas consultoras, Priscila Goldenberg, que chega a tender até 40 clientes por mês nas cidades de Orlando e Miami.
“É um negócio muito interessante. Lucro uns US$ 5 mil com o serviço por mês”, contou-me Lory Buffara, outra que também presta o serviço. Para ela, a diferença entre os preços nos dois países é tão grande que, em alguns casos, a economia é mais que suficiente para pagar as despesas com transporte e estadia no exterior.
“Mas não são apenas os impostos que elevam os valores dos produtos desse jeito no Brasil”, confessou-me no final do ano passado Caito Mais, dono de uma marca de acessórios para moda jovem chamada Chillie Beans. “Eu não sei porquê, mas o empresário brasileiro enlouquece com os preços. As coisas aqui não precisavam ser tão caras, como elas realmente são”, destacou.
por Renato Jakitas
VdR/UNOPress