São Paulo – O Brasil tem um desafio especial no combate ao uso de drogas por sua proximidade com países produtores, como a Bolívia, a Colômbia e o Paraguai, embora o problema atinja todos os países do mundo, disse o diretor do escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre drogas e crimes para o Brasil e Cone Sul, Bo Mathiasen.
"Não se pode ignorar o fato que estes vizinhos produzem maconha e cocaína na hora de traçar políticas públicas. Nesta região, todos devem trabalhar juntos", explicou o diretor, durante o primeiro seminário Drogas e seus Aspectos Polêmicos, realizado hoje (30) pelo Conselho Estadual Sobre Drogas em São Paulo.
Durante o seminário, o diretor assinalou que para resolver a questão das drogas é preciso que os países encontrem soluções economicamente viáveis para evitar que os jovens sejam estimulados a entrar para a rede formada pelo tráfico. "Sem investimento não há geração de emprego ou de renda. Sem emprego e renda, não há como competir com os trabalhos oferecidos pelo crime organizado".
Mathiasen disse que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial fizeram um estudo relacionando economia e crime organizado em alguns países como a Guiana, a República Dominicana e o Haiti. "Ficou comprovado que o crime é uma barreira para o crescimento econômico. Entretanto, não basta apenas investimentos na economia, é preciso também pensar em proteção social, com investimentos em saúde, educação, e assistência social".
Segundo o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o Brasil precisa repensar a lei em relação às drogas e destacou o exemplo de Portugal, que mudou a legislação sobre o uso e porte de pequenas quantidades de entorpecentes, transformando em infração administrativa, ao invés de crime. "Em Portugal diminuiu o uso de drogas entre jovens, além de epidemias como o HIV e hepatite, consequência do uso de drogas".
De acordo com o deputado, no Brasil há 80 mil presidiários por crimes ligados ao tráfico, mas sem envolvimento com organizações criminosas. A maioria, segundo ele, são réus primários.
Para o diretor da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad), Ronaldo Laranjeiras, a luta contra as drogas não será vencida enquanto as políticas públicas não envolverem a indústria do álcool. "Pensar na política para drogas sem considerar a questão do álcool é o mesmo que pensar na questão naval sem considerar o oceano". O diretor do centro de pesquisas afirmou que o Brasil deveria ter políticas para desistimular o consumo de álcool. "A Lei Seca foi a mais importante deste país, mas não há mecanismos para aplicá-la. É preciso estabelecer uma política social do combate ao álcool".
Ivy Farias/ABr