sábado, dezembro 28, 2024

Comércio e indústria pedem queda mais rápida da Selic

Brasília – O comércio está sofrendo menos os efeitos da crise internacional do que a indústria. A perspectiva para 2009 é de um crescimento no comércio, entre 3% e 4%, e uma previsão de recuo, de 4%, na atividade industrial. Os dois setores concordam, no entanto, ser fundamental que o Banco Central acelere a diminuição na taxa básica de juros (Selic).

A proposta foi defendida hoje (27) pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em audiência pública na comissão especial da Câmara dos Deputados destinada ao exame e a avaliação da crise econômica e financeira e sua repercussão no sistema financeiro e de mercado.

“A Selic pode cair mais rapidamente, para 9% na próxima reunião e, até o final do ano, para 8,5%, porque a inflação está sob controle e as taxas de juros caíram muito lá fora. O Brasil foi o país que menos cortou a taxa de juros”, afirmou o chefe do Departamento Econômico da CNC e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas.

Na avaliação do economista, o consumo ainda resiste à crise porque depende do mercado doméstico e não das exportações, e houve uma recuperação do crédito às pessoas físicas. Para o ex-diretor do BC, apesar do excesso excesso de liquidez, ainda existe muita restrição dos bancos para empréstimos a pequenas e médias empresas

Carlos Thadeu defendeu uma atuação mais forte do Banco Central, condicionando as liberações de compulsórios a empréstimos para pequenas e médias empresas. “Os bancos preferem comprar títulos públicos, que rendem bem e têm garantia, do que emprestar para empresas pelo medo de não receber. Seria importante que o excesso de liquidez fosse para o crédito”, disse.

Para controlar o crescimento da inadimplência – 21,3% das pessoas físicas e 44,7% das pessoas jurídicas entre março de 2008 e março deste ano – o economista propõe uma maior regulação, pelo BC, das atividades bancárias, em especial das taxas de juros. “Acho que deveria se tentar monitorar as taxas, como os Estados Unidos estão fazendo com os cartões de crédito. Não precisa controlar a taxa, mas há alternativas como avisar com antecedência qualquer aumento. Os bancos têm uma liberdade excessiva”, afirmou.

André Marques Rebelo, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, também manifestou preocupação quanto à escassez e ao encarecimento do crédito para o setor produtivo. Sugeriu uma queda da Selic para 7%. Ele também propôs a redução do compulsório à vista, com vinculação ao aumento do crédito, e o aumento dos investimentos públicos, com redução de gastos de custeio.

Apesar da perspectiva de queda na atividade industrial, Rebelo acredita que o momento mais agudo da crise ficou para trás. “Agora é possível que tenha uma retomada, mas muito lenta porque os fatores que são capazes de trazer um crescimento da produção estão tímidos, seja o crescimento do crédito, o crescimento do consumo das famílias, o crescimento dos investimentos. Além disso, as exportações estão caindo muito fortemente”, disse.

Mylena Fiori/AB
Edição: Aécio Amado 

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