Após mais de uma década de queda, a fome voltou a crescer no mundo no ano de 2016. É o que diz a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês). De acordo com a entidade, a situação é pior em países mais vulneráveis a mudanças climáticas, tanto as que trazem mais chuvas quanto secas.
Pese aos avanços dos últimos anos, a desnutrição infantil ainda é uma realidade global. Pobreza e mudança climática são apontadas como pivôs desse problema.
Portanto, uma das consequência dessa inversão é o fato de que a desnutrição infantil tem se tornado algo cada vez mais difícil de se combater. Estimativas da Unicef apontam que, se a situação se mantiver como está, 60 milhões de crianças podem morrer antes dos cinco anos de idade até 2030.
Da mesma maneira, a organização aponta que uma melhora na nutrição durante esse período crítico da vida poderia salvar algo em torno de 100 mil vidas por ano.
Brasil, um dos campeões em desnutrição infantil
Por mais que os dados relativos ao assunto sejam preocupantes em escala global, é preciso levar em consideração que algumas regiões são mais vulneráveis do que outras quanto o assunto é fome e desnutrição. Via de regra, quanto mais pobre um país, maiores as chances de que ele tenha uma parcela considerável de sua população desnutrida.
Apesar da taxa de pobreza e desigualdade no país ter apresentado uma significativa melhora, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que o Brasil está na lista de 51 países mais vulneráveis à prevalência da desnutrição.
De acordo com a entidade, há dois motivos principais por trás disso: a crise econômica, que gera desemprego e prejudica a segurança alimentar, e os choques climáticos que o país enfrentou, como o El Niño. A entidade afirma que existem “menos de 5,2 milhões” de afetados pela desnutrição em todo o território nacional.
Desigualdade, a chave por trás da desnutrição infantil
Especialistas afirmam que a infância é um período crítico para a desnutrição. Nessa fase da vida o ser humano ainda está em fase de desenvolvimento e de crescimento, e ambos os processos podem ser afetados pela escassez de nutrientes essenciais. Do mesmo modo, a desnutrição infantil mina ainda mais a imunidade das crianças, aumentando as chances de que elas morram por causas evitáveis.
Quando se trata desse fenômeno, os estudiosos da área afirmam que um fator é decisivo para a sua existência: a desigualdade social. Isso porque quando uma criança vive em um local remoto e desprovido de políticas públicas, ela tem uma chance muito maior de apresentar um quadro de desnutrição.
Prova disso é o fato de que a região Norte é a que mais apresenta tais casos no Brasil: lá, 18,8% das crianças com menos de cinco anos têm altura inferior à adequada para a idade, e 6,4% estão abaixo do peso ideal. Os dados são do Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil, elaborado pela Fundação Abrinq.
Do mesmo modo, a ONU afirma que as crianças indígenas são excepcionalmente vulneráveis à desnutrição infantil. A entidade apontam que 40% dos casos mundiais desse mal estão concentrados nessas comunidades – o que, no Brasil, também abarca os ribeirinhos.
Reconhecer os diferentes tipos de desnutrição infantil é fundamental para o tratamento
A desnutrição infantil é preocupante independentemente dos pormenores de cada caso. Ainda assim, é preciso ter em mente que ela se apresenta de várias maneiras, de modo a combatê-la de uma forma mais eficaz.
Um bom exemplo disso é o fato de que mesmo uma criança com boa condição socioeconômica e dentro – ou acima – do peso ideal pode estar com deficiência de nutrientes. Nesse caso, trata-se de desnutrição infantil do tipo Kwashiorkor, ou seja, ingestão de uma quantidade insuficiente de proteínas, mas não de calorias. Normalmente, isso se dá por problemas de saúde que dificultam sua absorção, ou mesmo por uma alimentação pobre em itens realmente nutritivos.
Do mesmo modo, há aquilo que as pessoas veem como a desnutrição infantil clássica: o marasmo. Nele, a criança simplesmente não ingere calorias suficientes para manter suas funções vitais, o que coloca sua saúde – e sua vida – em grave perigo.
Nesse caso, é fundamental realizar um tratamento que normalize o seu metabolismo, permitindo a recuperação e a chegada ao peso ideal. Do contrário, a criança poderá ter desde inchaços no corpo e mudança em seu tom de pele até infecções sérias, que podem levá-la ao óbito.
A desnutrição infantil pode começar antes mesmo do nascimento
Do mesmo modo, é fundamental considerar que a desnutrição infantil pode começar ainda no útero da mãe. Isso pois, caso ela não se alimente corretamente, o desenvolvimento do bebê ficará comprometido, fazendo com que ele nasça com baixo peso. Esse é um problema que não é exclusivo, mas que atinge, principalmente, a população de baixa renda.
Para reverter esse quadro, o foco deve ser a gestante, é fundamental que ela realize um pré natal adequado, com acompanhamento multidisciplinar. Da mesma maneira, ela deve ser orientada a respeito da importância do aleitamento materno, que deve ser a única fonte de alimento do seu filho nos seis primeiros meses de vida.
Daiana Barasa – Biquara Contents
