O contexto sociocultural da mulher nos últimos 50 anos teve influência decisiva na saúde. Até os anos 80, o objetivo era o casamento e a família. Depois, a ida ao mercado de trabalho tornou-se imprescindível no orçamento familiar. A geração que conquistou a liberdade, invadiu o mercado profissional e os redutos masculinos alcançou também um ônus implacável: uma exposição maior aos fatores de risco para doenças cardiovasculares.
A cardiologista Bianca Maria Prezepiorski, do Hospital Cardiológico Costantini, explica que hipertensão arterial, aumento do nível de gordura, tabagismo, obesidade, sedentarismo, estresse, diabetes, ansiedade, menopausa precoce e depressão passaram de esporádicos à rotina na saúde feminina. Em parte, devido ao acúmulo de funções domésticas, pessoais e profissionais que tanto sobrecarregam a mulher moderna. Tudo isso causa um impacto importante no coração físico.
Idade é fator determinante de proteção cardiovascular
Para se entender o cenário é necessário lembrar que até um tempo atrás doenças do coração eram predominantemente problemas atribuídos ao homem. Hoje, os casos praticamente se equipararam e é consenso mundial entre os cardiologistas de que a mulher se tornou mais vulnerável a este tipo de patologia. Com isso, também atingem altos índices de mortalidade por problemas coronarianos. “As mulheres são mais sensíveis ao estresse e, portanto, desenvolvem mais quadros de depressão, transtornos ansiosos e fobias, de três a cinco vezes, mais que os homens. As maiores causas são mudanças hormonais decorrentes da menstruação e da menopausa e seus efeitos sobre a emoção”, diz a cardiologista.
Uma importante alteração hormonal envolve a saúde do coração da mulher. A população está mais envelhecida e, atrelada à idade, várias defesas do organismo deixam de ter efeito. A cardiologista explica o que acontece. “No inicio do século 20, apenas 6% das mulheres alcançavam a menopausa. Estima-se que em 2025, 23% da população feminina dos paises desenvolvidos estará com mais de 60 anos. Os hormônios progesterona e estrogênio são protetores cardiovasculares, e por isso, mulheres na menopausa ficam mais suscetíveis ao risco”, diz.
Emoções e equilíbrio
Outra questão levantada pela médica é a influência das emoções na saúde do coração. Ela afirma que apesar de sempre se suspeitar de que o estado emocional alterado, ansiedade excessiva e conflitos emocionais crônicos estivessem relacionados ao aumento das doenças cardíacas, hoje estudos científicos comprovam esta teoria. “Perfis compulsivos que apresentam tendência ao trabalho excessivo, estresse elevado, agenda repleta de compromissos e responsabilidades sem pausa para o descanso e o lazer e, por conseqüência, sem relaxamento, são vítimas fáceis para a doença no coração. Somadas à alta carga de responsabilidade no âmbito familiar, doméstico e conjugal, é o ambiente perfeito para o colapso do corpo”, destaca.
Uma das explicações para esta influência se dá, de acordo com ela, porque o coração tem uma simbologia forte por denotar as emoções. “Adoecer do coração implica movimento de sentimentos importantes como amor, raiva, medo e ódio que acarretam repercussões marcantes na vida da mulher. Boa parte decorrentes da influência dos hormônios”, defende.
Segundo Bianca, ao final do clico reprodutivo da mulher, há uma redução na síntese de estrogênio que gera reações emocionais significantes. Algumas encaram o período como de amadurecimento, mas por outro lado, podem sentir-se descontentes. “Nesta fase de envelhecimento, em que é comum a preocupação com a beleza física, e quando a mulher pode se sentir frágil e abalada emocionalmente, a manifestação de doenças cardiovasculares pode ser agravada. Por isso é importante manter uma boa estrutura psicológica para encarar as mudanças sofridas pelo corpo com o passar do tempo e viver com saúde”, antecipa.
Ela completa que emoções negativas como medo e ansiedade desencadeiam a cascata hormonal do estresse, como adrenalina e cortisol, que repercutem diretamente no sistema cardiovascular. Este quadro aumenta a pressão arterial, a frequência cardíaca e a compulsão alimentar podendo resultar em graves problemas para o coração. “A orientação é rigidez no controle destes fatores de risco e equilíbrio de mente e emoções. A arte de não adoecer é na verdade a de saber viver cada fase da vida desfrutando seus pontos positivos”, recomenda a cardiologista.
Hospital Cardiológico Costantini/UNO