Barra Velha – A barravelhense Maria José Alves, uma das mais antigas fiandeiras de tucum de Barra Velha e moradora do bairro Los Angeles, foi eleita como a melhor artesã de trabalhos açorianos do Estado de Santa Catarina pelo Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (NEA-UFSC), de Florianópolis.
O anúncio foi feito pela coordenação do NEA, que promove no dia 24 de setembro próximo a 16ª edição do Açor – Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina, na cidade de Palhoça, onde Maria Alves será premiada com o Troféu “Ilha do Corvo”, referência a uma das ilhas do arquipélago dos Açores, em Portugal.
A Secretaria de Educação, Cultura e Desporto da Prefeitura de Barra Velha parabenizou a fiandeira, que receberá a premiação dia 24 de setembro às 19h30, no Clube Sete de Setembro, em Palhoça, juntamente com os demais homenageados do NEA-UFSC em 2009. De acordo com a secretária de Educação Antonina Damásio Ramos, o troféu será o reconhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina à contribuição de Maria Alves com a fiação do tucum – através dessa técnica, ela contribui com a manutenção das tradições da pesca artesanal, confeccionando redes, cestos e tarrafas.
Segundo o professor de História e pesquisador José Carlos Fagundes, a fiação das folhas do tucum já foi atividade comum entre os pescadores e colonos da comunidade barravelhense. Os fios, além de serem usados na confecção de utensílios de pesca, espinheis, tarrafas e redes, também tinham uso doméstico e chegavam a ser usados para costurar roupas.
Geralmente era responsabilidade do homem obter na mata a matéria-prima para sua produção. As mulheres, em seus raros momentos de ociosidade, dedicavam-se a fiar. O manuseio das folhas era delicado, já que o tucum possuei espinhos em sua superfície. Isto exigia uma certa técnica e conhecimento na prática da fiação, técnica que mulheres de pescador como a própria Maria Alves, além de Elvira Gaudina da Silva e Braziliza Leonardo dominavam muito bem.
Produção era voltada a pescadores
Os pescadores eram os principais compradores da fiação de tucum, motivo pela qual a produção era muito solicitada. Os fios, segundo as fiandeiras, eram negociados em quilos. O fruto também era usado para fazer vinho. A casca madura era colocada num “boião de barro” e deixada curtir por oito dias, depois era espremida e coada, acrescentava-se o cravo, a canela e finalmente se obtinha o vinho.
Ainda de acordo com Cacá, esse trabalho com as fibras do vegetal exigia paciência e dedicação. Era feito geralmente a noite, sob a luz de candeia. Da coleta das folhas ao fiamento e “cochamento” dos fios, todo o processo era essencialmente artesanal. O fuso era o principal utensílio usado na confecção da linha, que depois de pronta era enrolada, geralmente, em forma de novelo.
Em meados do século 18 proprietários de embarcações da vila de São Francisco já percorriam periodicamente as costas próximas, comercializando diretamente com colonos e pescadores o produto de seu trabalho: farinha de mandioca, peixe seco, milho, açúcar e também os fios de tucum.
Em seu memorável “Tratado Descritivo do Brasil em 1587”, Gabriel Soares de Souza descreve: “…o tocum é uma erva cujas folhas são como de cana-do-reino, mais curtas e brandas; a vara onde se criam é cheia de espinhos pretos, e limpa deles fica como “roca-da -Índia”. Estas folhas quebram os índios a mão, e tiram dela o mais fino linho do mundo, que parece seda, de que fazem linhas de pescar, torcidas a mão, e são tão rijas que não quebram com peixe nenhum. Este tocum, ou seda que dele sai, é pontualmente do toque da “erva-da-Índia,” e assim o parece; do qual se farão obras mui delicadas se quiserem…”.
Fonte: Assessoría de Imprensa