Os que sofrem desse transtorno se tornam “viciados” em comida natural, sem químicas ou agrotóxicos, e seguem uma dieta bastante rígida.
É difícil imaginar que uma pessoa que só coma alimentos saudáveis, sem restrições de quantidade, possa, na verdade, esconder uma disfunção alimentar. A ortorexia é distúrbio ainda pouco divulgado que sequer é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e nem consta nos manuais de psiquiatria. Os que sofrem desse transtorno se tornam “viciados” em comida natural, sem químicas ou agrotóxicos, e seguem uma dieta bastante rígida.
Como qualquer disfunção alimentar, a ortorexia pode causar severo prejuízo à saúde. Ao contrário da anorexia ou da bulimia, o paciente se sente à vontade para comer, mas fica obcecado pelas escolhas que leva à boca.
“O paciente evita carne vermelha, laticínios e alimentos com conservantes, agrotóxicos e corantes. Em geral, passa horas no mercado analisando rótulos e embalagens”, explica Gisela Peres, nutricionista da Santa Casa de Misericórdia do Rio.
Segundo Gisela, os ortoréxicos utilizam conceitos legítimos sobre o consumo de alimentos, mas fazem uso dessas informações de forma exagerada, o que pode acabar provocando falta de vitaminas e substâncias importantes ao organismo. “As restrições são tantas que eles acabam excluindo importantes grupos alimentares da dieta e tendo disfunções como anemia e avitaminose.”
As doenças causadas pela deficiência de nutrientes acabam sendo acompanhadas por problemas psicológicos e isolamento social. De acordo com Gisela, o portador do distúrbio prefere faltar a um almoço em família para que as pessoas não fiquem comentando suas escolhas. Comer fora também acaba se tornando uma questão problemática pela dificuldade de encontrar restaurantes que se encaixem nos padrões considerados aceitáveis pelos ortorexos. Muitos optam por carregar “kits de sobrevivência” para não passar aperto durante o dia.
Ainda não há um tratamento específico para ortorexia, até porque a doença não é reconhecida pela OMS. O mais adequado é um trabalho multidisciplinar, que agregue nutricionistas e psicoterapeutas. Segundo a chefe clínica do Ambulatório de Psiquiatria da Santa Casa, Maria de Fátima Vasconcellos, o tratamento para a ortorexia é o mesmo que se usa para outros distúrbios alimentares: “Fazemos uso de psicoterapia e até de antidepressivos para ajudar a inibir essa obsessão que a pessoa sente, se for preciso”.
De acordo com Maria de Fátima, os distúrbios deixam as pessoas compulsivas e ansiosas. Alguns deles, como a ortorexia, além de mexer com esses aspectos, trazem também baixa autoestima e alteração da imagem corporal.
“O importante é que o paciente aprenda que seus conceitos sobre dieta saudável podem estar inadequados. É fundamental fazer com que ele entenda isso até para que possa recuperar a autoestima”, completa Gisela.
Teste do Doutor Steve Bratman* para a ortorexia
Passa mais do que três horas do dia pensando na sua dieta?
Planeja as suas refeições com vários dias de antecedência?
Considera o valor nutritivo dos alimentos mais importante do que o prazer que eles dão?
A qualidade da sua vida reduz à medida que aumenta a qualidade da sua dieta?
Tem sido cada vez mais rigoroso consigo próprio durante este tempo?
Tem melhorado a sua autoestima por se alimentar de forma saudável?
Rejeita consumir alimentos que gostava?
Nota que é difícil fazer refeições fora, distanciando-se da sua família e amigos?
Sente-se culpado quando sai da dieta?
Sente-se em paz consigo mesmo e acredita que tem total controle quando come saudavelmente?
Se as respostas forem afirmativas para quatro ou cinco perguntas, isto significa que é necessário relaxar mais um pouco no que diz respeito à alimentação. Mas, se as respostas forem afirmativas a todas as questões, a pessoa tem uma obsessão pela alimentação saudável.
por Fernanda Dias, para o Opinião e Notícia
* Primeiro médico a descrever a ortorexia, em 1997.
** Este teste é apenas indicativo, em caso de dúvida, procure um médico especialista.
*** Publicado orginalmente no site Opinião e Notícia.
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