quinta-feira, dezembro 26, 2024

Por que elas ganham menos?

Consultor explica que os homens não ganham mais que as mulheres apenas por questões de preconceito, mas por outro motivo: ao contrário das mulheres, geralmente os homens colocam a carreira muito à frente da família

Participar de almoços e jantares de negócios; ser agressivo na busca de metas; reivindicar aumentos de salários; prospectar clientes; trabalhar nos finais de semana;

cobrar resultados, cortar custos; viajar com frequência; fazer política para ser promovido. Essas são algumas das muitas atividades “extras” que fazem parte do dia a dia de

executivos de empresas nacionais e multinacionais. No mercado de trabalho, o diferencial não está, muitas vezes, presente nas tarefas que são desenvolvidas, mas na

personalidade do profissional que a desenvolve. Nesse sentido, quem exerce melhor estas atividades, o homem ou a mulher? Na era do politicamente correto, quase todos

responderiam que tanto faz, o importante seria a capacidade de realização e a produtividade desta pessoa.

Mas, se isso é verdade, por que, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais 2010 (RAIS), as mulheres, que representam 42% dos 44 milhões de

trabalhadores formais do Brasil, ganham, em média, 17% menos do que os homens? Uma das explicações para esta questão, de acordo com Eduardo Ferraz, consultor em

Gestão de Pessoas e estudioso da Neurociência Comportamental, é que a diferença salarial é definida quando o profissional escolhe qual moeda de troca ele dará prioridade

em sua carreira. As empresas têm basicamente quatro moedas para oferecer aos seus funcionários: dinheiro, segurança, status e aprendizado.

“Quem gosta mais de dinheiro, inconscientemente deixará em segundo plano as outras moedas, abrindo mão principalmente da segurança que significaria horários fixos,

estabilidade, e, portanto, tempo para dedicar à família. Há mais homens ganhando mais e em cargos de chefia, pois eles culturalmente priorizam a carreira e colocam a

família em segundo plano”, explica o consultor, que complementa: “as mulheres, em sua maioria, preferem trabalhos que lhes proporcionem mais segurança do que

dinheiro. Não há uma opção melhor que a outra, apenas consequências”, Ferraz, que também é autor do livro Por que a gente é do jeito que a gente é?, lembra que os

profissionais (homens ou mulheres) que deixam de lado a segurança, seja por estarem atrás de mais dinheiro, status ou aprendizado, estão sujeitos à instabilidade,

mudanças freqüentes, carga horária maior e pressão constante por resultados.

O preço pela estabilidade

Segundo Ferraz, “Tudo tem seu preço”. Quem der muita prioridade ao aprendizado, tenderá a abrir mão do dinheiro e (ou) do status, e assim por diante, já que, quando

uma moeda é muito importante, ocupa o espaço das outras. No caso das mulheres, a escolha pela segurança é quase instintiva. “Elas têm uma sobrecarga muito maior que

a dos homens. Além de estar sempre atualizada, ter cursos de especialização, e ser uma profissional brilhante, ainda tem que cuidar dos filhos, ser uma filha dedicada, ter o

corpo saudável, cuidar da casa, ser amorosa com marido, e ainda ouvir – pacientemente – da sogra, que não dedica tempo suficiente à família. É um verdadeiro massacre, e

pouquíssimos homens agüentariam a carga que a maioria das mulheres suportam”, descreve Eduardo Ferraz.

“É por isso que muitas mulheres tacitamente aceitam ganhar menos em troca de uma carreira que lhe dê mais segurança e flexibilidade para suas múltiplas jornadas”.

O consultor chama a atenção para as mulheres que priorizam a carreira e entregam resultados consistentes, fato que garante uma autoridade moral para exigir chances

parecidas com a dos homens. “Quer meu talento em tempo integral? Pague o mesmo que fulano ganha para realizar um trabalho parecido. Esta postura quase sempre

funciona, pois ninguém quer perder um funcionário de alta performance independente do sexo”.

O preço é alto, mas para quem está disposta a pagar vale à pena investir, mesmo que muitas vezes tenha que adotar uma jornada “quíntupla”: ser ótima profissional, mãe,

esposa, ganhar mais que os homens e ainda ser elogiada pela sogra…

*Eduardo Ferraz é consultor em Gestão de Pessoas e especialista em treinamentos e consultorias “in company”, com aplicações práticas da Neurociência comportamental,

possuindo mais de 30.000 horas de experiência prática. É pós-graduado em Direção de Empresas, especializado em Coordenação e Dinâmica de Grupos e autor do livro “Por

que a gente é do jeito que a gente é?”, da Editora Gente.

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