Brasília – O potencial das reservas de petróleo na camada pré-sal pode ser maior do que se estima, mas no momento "os números são apenas especulativos", de acordo com o professor Guiseppe Bacoccoli, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e especialista em mercado de petróleo.
Segundo ele, as notícias dão conta da existência de jazidas entre 5 e 8 bilhões de barris nas áreas já pesquisadas e entre 10 e 15 bilhões nos campos vizinhos, mas o único jeito de se chegar aos números concretos é a perfuração, que identificará o real potencial e isso deve envolver grandes investimentos.
Bacoccoli, que falou sobre o assunto em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, disse que há “interesse eleitoreiro” do governo na questão, enquanto nos estados onde se localizam as reservas o interesse é de concentrar os benefícios que a exploração vai permitir.
No entanto, a proposta que deverá ser inserida no marco regulatório que o Congresso Nacional vai discutir é de se criar um sistema de compartilhamento em que os estados produtores não ficariam com todos os benefícios, como acontece com o modelo atualmente em vigor de regime de concessão.
Bacoccoli acha justo que a maior parte dos recursos decorrentes de impostos que vão ser gerados fiquem nas regiões produtoras, pois elas vão arcar com os impactos sociais, socioeconômicos e ambientais da atividade.
Para o professor, o Brasil deveria repassar ao consumidor os benefícios da exploração do pré-sal, como acontece na Venezuela, onde a gasolina é barata. Aqui, no entanto, segundo ele, cerca de 50% do preço dos combustíveis são decorrentes de impostos.
"A exploração abaixo da camada do pré-sal é importante para o Brasil, pois atualmente o país já produz o que consome e poderá também ser um dos mais importantes exportadores de petróleo".
Bacoccoli afirmou que na questão energética o Brasil está plenamente assegurado, o que considerou muito positivo, "porque o país fica independente das confusões de mercado que ocorrem lá fora".
A situação do país é invejável, chama a atenção Bacoccoli, tanto na questão do etanol produzido pela cana quanto no potencial interno para geração de energia elétrica.
O pesquisador vê com desconfiança a promessa do governo de que poderia constituir um fundo social com recursos decorrentes da exploração, lembrando que em outras situações no país isso não ocorreu, como no caso da arrecadação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), em que o dinheiro foi desviado da destinação inicialmente prevista (a saúde).
Bacoccoli defende que a sociedade precisa participar das discussões sobre a exploração na camada de pré-sal, assim como a indústria, setores que não foram chamados ainda a opinar. A participação geral e irrestrita nas discussões será bem-vinda, defende o especialista.
Fonte: Lourenço Canuto/ABr