As vésperas da guerra sangrenta entre o Sul e o Norte da Península da Coreia que começou em 25 de junho de 1950 e se prolongou por três anos, os peritos de vários países, como hoje, examinavam diversos cenários do evoluir de acontecimentos, formulando recomendações relativas aos preparativos da guerra para respectivos governos e estados-maiores.
Mas todos acreditavam na possibilidade de evitar o conflito. Até o líder soviético na época, Stalin, se manteve reticente e cauteloso no seu apoio ao camarada Kim II-Sung, tentando evitar também motivos para a escalada do litígio perigoso.
Atualmente, no meio de analistas e peritos, prevalece uma opinião de a Coreia do Norte estar blefando. Todavia, ninguém, exceto o governo norte-coreano, parece possuir dados reais sobre o potencial nuclear de Pyongyang.
Nas palavras do diretor do Centro de Pesquisas Político-Sociais, Vladimir Evseev, depois de realizados três testes nucleares, a Coreia do Norte poderá dispor de 28 kg de plutônio. Em entrevista à Voz da Rússia o perito russo especificou:
“Calculando que cada carga poderá transportar 4 quilos, a Coreia do Norte estará em condições de montar sete cargas nucleares com base no plutônio. Outra questão seria como ela poderá fazê-lo. Acho que a Coreia do Norte não tem alguma carga para utilizá-la num míssil. Pode supor-se que aquele plutônio, na posse de Pyongyang, possa ter sido usado para a produção de bombas atômicas. Mas como a Coreia do Norte será capaz de transportar bombas para o território da Coreia do Sul?”
A potência máxima da bomba de plutônio norte-coreana não ultrapassa 20 quilo-toneladas, podendo ter um peso de algumas toneladas e significativo tamanho. Para transportar ou levá-la até ao alvo será necessário um respectivo portador, ou seja, um bombardeiro pesado. Duvido que as Forças Armadas da Coreia do Norte tenham um avião com tais características, disse Evseev.
Os especialistas apontam que o arsenal nuclear do país está limitado, estimando-se em seis cargas de plutônio, revelou em declarações prestadas à Voz da Rússia, o diretor do Centro de Conjuntura Política, Ivan Konovalov.
“Apesar de a parte norte-coreana anunciar sobre a prontidão das suas forças nucleares para operações militares, não existem provas de o seu programa nuclear ter tido sucesso e que o país acabasse por dispor de armas atômicas. Tudo isso parece ser um blefe, ou um engano colossal”.
Todavia, o nível tecnológico da Coreia do Norte e a sua sagacidade permitem a Pyongyang encontrar jeito para o emprego de cargas nucleares por mais primitivas que sejam. Por exemplo, se pode abrir um túnel debaixo do 38º paralelo geográfico rumo a Seul e fazer explodir uma bomba ali. Há hipóteses de Pyongyang vir a utilizar, na qualidade de vetor, embarcações civis ou aviões de passageiros.
Há quem suponha que a direção norte-coreana se atreva a dar tal passo no caso de “Kim Terceiro” estiver ameaçado por uma guerra convencional que leve à sua resignação e à detenção. Mas mesmo assim, se deve excluir um ataque de retaliação por parte dos EUA, acreditam analistas.
E é por ai que se cria uma situação paradoxal: não se deve incitar Pyongyang ao eventual uso de armas nucleares. Por outro lado, não há garantias de a Coreia do Norte não ser a primeira a desencadear uma guerra com o emprego de armas convencionais. Os EUA e a Coreia do Sul terão de reagir por forma a infligir a estrondosa derrota militar ao regime de Pyongyang que, num gesto de desespero, poderá recorrer ao uso de suas cargas nucleares.
Por mais diversas que sejam as características da atual postura da Coreia do Norte, seja uma chantagem ou um blefe, o futuro cenário da situação dependerá de mísseis Musudan e da trajetória de seu voo quando forem lançados. Custa a crer que Kim Jong-un estaria jogando a sério. No caso da chantagem, a Moscou, Pequim e Washington convinha procurar meios adequados para acalmar os ânimos belicistas de Pyongyang. Desta maneira, será possível ganhar tempo antes que os cidadãos norte-coreanos se cansem de desfilar em marchas triunfantes, entoando hinos de louvor aos atuais líderes atrozes e aos antigos guiais comunistas mumificados.
Nikita Sorokin
VOR/UNOPress