por Dr. Ricardo Teixeira
A realização de testes genéticos para avaliar o risco da Doença de Alzheimer em filhos adultos e saudáveis de pacientes portadores da doença não provocou estresse psicológico significativo, de acordo com estudo publicado na última edição do periódico The New England Journal of Medicine.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston e demais colaboradores nos EUA estudaram cerca de 160 indivíduos em que metade deles foi sorteada para receber resultados do teste genético (genotipagem da apolipoproteína E) e a outra metade para não receber.
Não houve diferença entre os níveis de ansiedade, depressão e estresse psíquico entre os dois diferentes grupos. Entretanto, aqueles que receberam resultados negativos no teste apresentaram menor grau de estresse psicológico, e aqueles que receberam resultados positivos apresentaram maior estresse psicológico, mas por um período de tempo limitado.
Não houve diferença entre os grupos com teste positivo e negativo quanto a terem arrependimento em terem feito o exame. A pesquisa ainda revelou que o estresse psicológico associado ao teste foi maior entre aqueles que já tinham um maior grau de estresse psicológico de base.
Este estudo é de extrema importância no momento em que diversos testes genéticos para diferentes doenças começam a ser comercializados. Muita controvérsia ainda existe sobre o real benefício em se testar geneticamente a família de um indivíduo com a Doença de Alzheimer, já que o estresse psicológico pode ser maior do que os potenciais benefícios do exame.
É importante ressaltar que os participantes do atual estudo foram cuidadosamente selecionados no sentido de se excluir indivíduos com transtornos neuropsiquiátricos. Além disso, os voluntários receberam aconselhamento genético por profissionais especializados. Esse é um cenário bem diferente da solicitação de testes para qualquer pessoa e por médicos que não têm experiência em aconselhamento genético.
Hoje as empresas já começam a oferecer testes diretamente ao consumidor final, pessoas que não têm a mínima idéia do que fazer com um resultado positivo ou negativo.
O presente estudo acompanhou os voluntários por um ano, e eles continuarão a ser acompanhados para avaliação de seus estados psicológicos a longo prazo. Os resultados apresentados até o momento sugerem que não há prejuízos psicológicos significativos, pelo menos a curto prazo, ao se submeter filhos adultos de pacientes com o diagnóstico da Doença de Alzheimer a testes genéticos preditivos da doença.
As medicações atualmente aprovadas para o tratamento da doença de Alzheimer, na verdade, não mudam o curso natural da doença. As medicações fazem com que os portadores da doença possam melhorar seu desempenho cognitivo, mas a progressão da doença continua.
Por isso, atualmente não há muita vantagem em se realizar testes genéticos para definir se uma pessoa tem maior ou menor chance de vir a desenvolver a doença. No dia em que tivermos disponíveis estratégias que realmente tratem a doença no sentido de evitar sua progressão, será fundamental definir o diagnóstico da forma mais precoce possível. Aí então, certamente os testes genéticos serão indicados em larga escala.
Dr. Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico em saúde. É também titular do Blog “ConsCiência no Dia-a-Dia” – www.consciencianodiaadia.com.